terça-feira, 10 de setembro de 2019

Lições econômicas básicas — mas ainda difíceis de serem compreendidas (Walter E. Williams)



Tradução: Leandro Augusto Gomes Roque
Revisão: Marcelo Werlang de Assis

Uma das mais difíceis lições econômicas a ser ensinada aos neófitos dessa área — e, surpreendentemente, também a vários economistas bastante treinados — é a ideia de que a teoria econômica não pode dizer nada de definitivo sobre declarações subjetivas. Ela não pode dizer se algo é ótimo, bom, ruim ou péssimo. Permitam-me alguns exemplos para esclarecer melhor esse ponto.
O vinho Cabernet Sauvignon é melhor que o vinho Fumé Blanc. A carne de peru é melhor que a carne de porco. Matéria no estado sólido é melhor do que no estado de plasma. Cada uma dessas afirmações utiliza as suas próprias premissas como prova das próprias afirmações, o que nada mais é que um raciocínio circular. Portanto, fica a pergunta: onde está a prova de cada uma dessas afirmações? Sendo declarações meramente subjetivas, discordâncias entre os debatedores podem se prolongar ad infinitum. É tudo simplesmente uma questão de opinião pessoal. A opinião de uma pessoa sobre o que é melhor ou pior é tão válida quanto a opinião de outra pessoa.
Agora, compare essas declarações com estas outras aqui: A água é formada por moléculas compostas por dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio. Cientistas não podem dividir o átomo. A distância em graus da Linha do Equador ao Polo Norte é de 90. Com afirmações positivas como essas, se houver qualquer desacordo, existem fatos aos quais o proponente dessas ideias pode recorrer para resolver a contenda. Por exemplo, se um indivíduo diz que cientistas podem dividir o átomo, mas outro diz que não, uma viagem ao acelerador linear de Stanford para observar átomos sendo divididos resolve a questão. No entanto, se você disser que o vinho Fumé Blanc é melhor que o vinho Cabernet Sauvignon e se eu disser que o vinho Cabernet Sauvignon é melhor, a nossa discordância pode se prolongar eternamente, pois não há fatos ou números concretos para os quais possamos recorrer.
Uma maneira sempre útil de saber se uma afirmação é subjetiva é observar o uso de termos e expressões como ‘deveria’, ‘tem de’, ‘melhor’ e ‘pior’. Sempre digo aos meus alunos que, embora seja importante saber se uma afirmação é subjetiva ou não para raciocinar corretamente, de modo algum estou sugerindo que eles expurguem do seu vocabulário afirmações subjetivas. Afirmações subjetivas são muito úteis para confundir os outros e levá-los a fazer exatamente aquilo que você deseja que façam para você. No entanto, no processo de enganar os outros, o indivíduo não precisa enganar a si próprio. Por exemplo, um político diz que cursar universidade “é um imperativo econômico que deve ser acessível a todas as famílias da nação”. Não há absolutamente nenhuma evidência que confirme indiscutivelmente essa afirmação. Com efeito, há vários exemplos de pessoas inteligentes e extremamente bem-sucedidas que sequer completaram o ensino médio. Da mesma maneira, há vários exemplos de pessoas com doutorado que não têm a mínima ideia do que fazem no mundo. Não obstante, tal afirmativa é uma ótima maneira de coagir os outros a pagarem pela educação de alguém.
E quanto à afirmação de que as pessoas não deveriam praticar discriminação por raça ou por sexo? Qualquer que seja a validez emocional de tal afirmação, ela é, acima de tudo, um mero juízo de valor, sem nenhuma evidência ou nenhum fato que a comprovem. Ademais, se a interpretarmos literalmente, concluiremos que ela é uma tolice sem absolutamente nenhum sentido. Pense a respeito. Discriminação nada mais é que um simples ato de escolha. Sempre que escolhemos algo — ato esse que fazemos várias vezes ao dia —, estamos discriminando. Quando escolhemos uma pessoa para ser a nossa parceira para o resto da vida, estamos inevitavelmente discriminando ou por raça ou por sexo ou por ambos. Você gostaria de viver numa sociedade em que existissem punições por essa discriminação? Gostaria que o governo estipulasse com quem você deveria se casar?
Já tive alunos que argumentaram que a discriminação por raça e por sexo no que diz respeito ao casamento é trivial e sem grandes consequências; mas que, no que concerne ao mercado de trabalho, é imperativo haver normas impondo a igualdade de oportunidade. Mas o que é igualdade de oportunidade? E como você pode afirmar que ela está sendo aplicada? Sempre pergunto aos alunos que defendem essa ideia se eles, ao se formarem, darão a cada empregador uma igualdade de oportunidade para contratá-los; se eles irão se oferecer igualmente para as grandes empresas que pagam bem e para o administrador do cemitério que precisa de mais coveiros. E eles sempre me olham com uma expressão atônita e dizem, um tanto constrangidos, que não. E então eu pergunto: “Se vocês não darão a cada empregador a igualdade de oportunidade de contratá-los, por que então todos os empregadores deveriam ser forçados a lhes dar uma igualdade de oportunidade para serem contratados?”.
Sempre que a discussão resvala para a lei da demanda, o termo “necessidade” sempre surge. Um estudante pode dizer que um carro, um celular e água corrente são necessidades essenciais. A minha resposta é que carros, celulares e água corrente não podem ser necessidades essenciais, pois as pessoas conseguiram viver sem esses itens por muito mais tempo do que vivem com eles. Não há nada sem o qual as pessoas não possam viver; apenas as consequências é que podem não ser muito agradáveis.
E você pode dizer: “Williams, mas este seu pensamento não é nada misericordioso!”. Correto. Creio que ser misericordioso para com os semelhantes é algo que exija análise isenta e raciocínio desapaixonado. Em outras palavras, temos de pensar com o nosso cérebro, não com o nosso coração.

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