(Publicado em: 23.04.2017)
No seu livro clássico
sobre treino e prática, Mastery: The Keys to
Success and Long-Term Fulfillment
[“Maestria: As Chaves para o Sucesso e a Realização a Longo Prazo”],
George Leonard observa que muitos de nós se condicionaram a achar que a vida seja
uma “série interminável de momentos de clímax”.
A vida não é só títulos de
Super Bowl
Escrevendo no início dos
anos 1990, Leonard fez esta observação sobre comerciais de televisão: “A
corrida é disputada e vencida; jovens bonitos movimentam-se em êxtase para cima
e para baixo enquanto pegam latas geladas de Coca-Cola diet. Pessoas são
mostradas trabalhando nos seus escritórios por somente um segundo e meio, depois
já é hora de celebrar e confraternizar.”
A mensagem desses
comerciais se resume a soluções rápidas para os problemas da vida. “Uma
epifania segue outra. Uma fantasia é ultrapassada pela próxima. Um clímax
empilha-se noutro clímax. Não há platô”, constata Leonard.
Se você olha para a vida
de Tom Brady através de uma lente superficial, ela parece ser uma sequência de momentos
de clímax, um após o outro. Na exígua lista dos melhores quarterbacks de
todos os tempos, Brady tem cinco títulos de Super Bowl e quatro prêmios de MVP de
Super Bowl (“most valuable player” — “jogador mais valioso” ou, simplesmente, “destaque
da final”), além de uma família amorosa. [Atualmente, em 2022, ele ostenta sete
títulos de Super Bowl e cinco prêmios de MVP de Super Bowl.]
Se você acredita que o
segredo do sucesso de Brady é o seu talento ilimitado, você pode estar perdendo
o ponto principal da história de Tom Brady.
Quando Brady, em 1996, matriculou-se
na Universidade de Michigan, ele era apenas o sétimo na fileira de quarterbacks
da instituição. O tempo de jogo era tão escasso que Brady contratou um
psicólogo esportivo para ajudá-lo a superar a sua frustração, a sua ansiedade.
Saindo da faculdade, ele
foi selecionado somente na sexta rodada do draft da NFL de 2000. Poucos
esperavam que Brady se tornasse um excelente quarterback profissional.
Ele começou a sua carreira no New England Patriots apenas como o quarto na fileira
dos quarterbacks.
Que dor você quer aguentar?
Ao contrário de Brady,
alguns de nós lamentam as nossas vidas. Para qualquer um que escute, recitamos as
nossas histórias de como e por que as coisas não deram certo para nós.
Estamos muito focados num
objetivo, mas não o suficiente no esforço necessário para alcançar esse
objetivo?
“The Most Important Question of Your Life” [“A Questão Mais
Importante da Sua Vida”] é um ensaio de Mark Manson. Nele, o autor
compartilha o seu falso sonho de se tornar uma estrela do rock,
confessando:
Eu estava apaixonado pelo resultado — uma imagem de mim no
palco; pessoas vibrando e aplaudindo; eu agitando; eu derramando o meu coração
naquilo que está sendo tocado —, mas não estava apaixonado pelo processo. E,
por causa disso, falhei. Repetidamente. Inferno, eu nem mesmo me esforcei o
suficiente para falhar. Na prática, nem mesmo tentei.
O sonho de Manson era “falso”
porque ele não estava pronto para pagar o preço do sucesso. “O que determina o seu
sucesso não é: ‘O que você deseja desfrutar?’. A questão é: ‘Que dor você quer aguentar?’
(...) [Se] você deseja os benefícios de algo na vida, também deve querer os
custos”, escreve Manson.
Amando o platô
Aos 39 anos [agora,
em 2022, Brady está com 45 anos], muito depois da idade em que a maioria
dos jogadores de futebol americano costuma se aposentar, Tom Brady ainda está disposto a pagar o
preço de alcançar a maestria. A dieta rigorosamente orgânica
de Brady consiste em
vegetais, grãos integrais e proteínas magras. Nada de café. Nada de laticínios.
Para evitar inflamações no seu corpo, Brady fica longe de alimentos da família
das solanáceas, como tomates e batatas.
Dedicado à sua família,
Brady não se sente atraído pela cena social. Ele encontra-se na cama por volta
das nove horas da noite e não toma bebida alcoólica. No treinamento, evita o levantamento
de pesos pesados em prol de exercícios de flexibilidade. Isso, acredita Brady,
reduz as suas chances de lesões nos jogos.
Fergus Connolly, diretor
de desempenho de futebol americano da Universidade de Michigan, está certo de que,
“ao nível de Brady, a maneira como você cuida dos seus genes importa mais que a
sua composição genética”.
No campo e fora dele,
Brady parece ser inabalável. Ele
dá crédito a uma filosofia que impede permitir que as ações dos outros o
perturbem. Será que essa filosofia aumenta o seu desempenho nos dias de jogo
tanto quanto a longevidade da sua carreira no futebol americano?
Mesmo depois de ganhar o
Super Bowl, nas palavras de Leonard, “sempre há amanhã, amanhã e amanhã”. A
visão de Leonard é a seguinte: “Se a nossa vida é uma vida boa, uma vida de
maestria, a maior parte dela será despendida no platô.”
Leonard se pergunta:
Muitas pessoas podem aprender a valorizar o platô? “Caso contrário”, escreve
ele, “uma grande parte [das nossas vidas] pode muito bem ser despendida em
tentativas inquietas, distraídas — em última análise, autodestrutivas — para escapar do platô.”
Michelângelo famosamente
disse: “Se as pessoas soubessem o quanto eu trabalhei para obter a minha
maestria, ela sequer pareceria tão maravilhosa.”
Estamos nos esforçando para alcançar a maestria nas nossas carreiras — ou estamos apenas esperando um clímax chegar? Estamos confiando demais nas nossas boas intenções e negligenciando o trabalho duro mundano que possibilita uma vida gratificante?