Texto
publicado em 08.08.2022 no jornal Zero Hora, de Porto Alegre, RS
Ninguém tratou a desigualdade social
melhor que Pol Pot, líder do Khmer Vermelho, grupo revolucionário comunista que
governou o Camboja de 1975 a 1979. De família rica, Pol Pot estudou em Paris,
onde conheceu as ideias de Rousseau, Marx, Stalin e Mao. Com Kropotkin,
anarquista russo, aprendeu sobre o igualitarismo, doutrina na qual Pol Pot se
especializou, levando-a às últimas consequências. Para impedir que os
indivíduos mais qualificados, criativos, produtivos, ambiciosos se
sobressaíssem na sociedade cambojana, não hesitou em usar a violência
extrema.
A natureza racional do homem demanda
que os indivíduos sejam livres para agirem de acordo com o seu próprio
julgamento para desenvolverem habilidades, adquirirem conhecimento e bens,
interagirem com os demais para a maximização de potencialidades e oportunidades
individuais no contexto social, buscando satisfazerem o seu
autointeresse.
Pol Pot sabia que homens livres não são
iguais. Por isso, evacuou cidades, transferindo os seus habitantes para áreas
rurais para trabalharem com monocultura agrícola como escravos do seu governo.
Os cambojanos foram destituídos dos seus bens; famílias foram dissolvidas; e
cientistas, professores, clérigos, adultos pertencentes à classe média foram
considerados corruptos e mortos. Pessoas com problemas de visão tiveram os seus
óculos confiscados para que ninguém enxergasse melhor que os outros. Quem
demonstrasse possuir conhecimento superior era sumariamente exterminado.
Os comunistas tinham ciência de que
para acabar com a desigualdade social, natural à espécie humana, era preciso
transformar cada indivíduo num animal irracional, incapaz de adquirir e usar
conhecimento, de criar e produzir riqueza. No Camboja, a igualdade social foi
conquistada na forma de cadáveres empilhados aos milhões em montanhas de ossos.
Seres humanos não são iguais. Onde liberdade e propriedade existem, como no capitalismo, os resultados produzidos pelos indivíduos sempre serão desiguais. O capitalismo não acaba com a desigualdade social porque não é um sistema desumano. O que acaba no capitalismo é a miséria, este, sim, problema real da humanidade, mas que vem sendo reduzido desde a Revolução Industrial.
Quando vierem lhe falar de desigualdade social, pergunte: “Já ouviste falar em Pol Pot?”. Se a resposta for não, recomende Gritos do Silêncio, título em português do filme The Killing Fields, os campos da morte, em tradução literal.
***
Comentário na seção dos leitores de João Carlos Stona Heberle, um médico de Cruz Alta (RS), no dia seguinte à publicação do texto acima no jornal Zero Hora, de Porto Alegre (RS):
O texto “Desigualdade
social, a solução final”, de Roberto Rachewsky (ZH, 8/8), cita Pol Pot (um
déspota) como “exemplo” de comunismo e diz que o que acaba no capitalismo é a
miséria! Em que país vive Roberto? Pois no nosso Brasil capitalista, 33 milhões
de pessoas estão passando fome. Programas como Fome Zero, Minha Casa Minha Vida
e o Prouni, da dita “esquerda”, esses sim, diminuem a desigualdade social.
O livre
mercado — o capitalismo — envolve propriedade privada, trocas voluntárias,
oferta e demanda, sistema de preços, empreendedores servindo
consumidores/usuários; irrestrita liberdade de entrada no processo de mercado;
processo de poupança, investimento e acumulação de capital. Nada tem a ver com
socialismo (propriedade estatal de tudo e de todos) e intervencionismo
(economia de compadrio).
O estado
é apenas um aparato de coerção, de violência, de agressão. Ele não produz
riqueza. Ele somente a confisca e a redistribui, ficando para si — i.e.,
para os políticos e os burocratas que o comandam — a maior parte desse
esbulho. Tais “programas sociais” somente servem para polir a imagem do Bandido
Estacionário e obter apoio político-eleitoral.
O estado brasileiro simplesmente não permite o capitalismo genuíno no país. Não existe verdadeiro livre mercado por aqui; o intervencionismo estatal domina tudo. Se houvesse genuíno capitalismo por aqui, o nível de miséria seria muitíssimo menor.
O
socialismo significa que todos os meios de produção estão sob o controle do
estado. Na prática, o estado torna-se dono de tudo e de todos. A força de
trabalho dos indivíduos é também um meio de produção; o socialismo, então,
significa que a força de trabalho das pessoas pertence ao estado, não a elas. Na
realidade, as próprias pessoas pertencem ao estado.
O
médico chamou Pol Pot de “um déspota”, dando a entender que o socialismo do
Khmer Vermelho foi apenas “despotismo”, “ditadura”, “opressão”, deixando,
portanto, de configurar o “verdadeiro socialismo” — então todas as atrocidades
do socialismo nas diversas regiões do planeta aconteceram apenas porque o
socialismo foi aplicado de maneira errada. O socialismo, porém, dá o poder
absoluto a um grupelho de políticos e burocratas. E o poder absoluto resulta em
atrocidades absolutas. (O socialismo, ademais, prega o extermínio de quem seja
inimigo do proletariado e da revolução — “burgueses”, por exemplo.)
Esse
número de pessoas que o médico diz que estão passando fome — trinta e três milhões
— é apenas propaganda esquerdista.
Finalizo: A “igualdade plena” só é possível por meio de ilimitada violência para rebaixar os seres humanos a um denominador comum: escravos animalescos.
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