“Government is essentially the negation of liberty.” — Ludwig von Mises (“O governo é essencialmente a negação da liberdade.”) “The institution of the state establishes a socially legitimized and sanctified channel for bad people to do bad things.” — Murray N. Rothbard (“A instituição do estado estabelece um canal legitimado e ungido para pessoas más fazerem coisas ruins.”) “[The state is] an institution run by gangs of murderers, plunderers, and thieves, surrounded by willing executioners, propagandists, sycophants, crooks, liars, clowns, charlatans, dupes, and useful idiots — an institution that dirties and taints everything it touches.” — Hans-Hermann Hoppe (“[O estado é] uma instituição conduzida por gangues de assassinos, saqueadores e ladrões, tendo à sua volta dispostos executores, propagandistas, patifes, vigaristas, mentirosos, palhaços, charlatões, imbecis e idiotas úteis — uma instituição que suja e macula tudo que toca.”) “Socialismo es todo sistema de agresión institucional contra el libre ejercicio de la acción humana o función empresarial.” — Jesús Huerta de Soto

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

O mito do poder da Coca-Cola (Jeffrey Tucker)


Tradução: Marcelo Werlang de Assis


Eu, muito tempo atrás, perdi o gosto pela Coca-Cola. Talvez a causa se encontre nas suas bolhas efervescentes há simplesmente muitas delas. Ou talvez o motivo seja, na sua versão americana, a doçura pegajosa do xarope de milho (subsídios para o milho e tarifas sobre o açúcar estão por trás disso). Ou talvez a razão seja o fato de que, depois de tomar uma dose, eu sinto um zumbido louco seguido por uma explosão devastadora. Eu jamais consegui entender como é que alguém ainda permanece acordado depois de um hambúrguer gigante, uma poderosa porção de batatas fritas e uma coca enorme.
Parece que não estou sozinho aqui. A Coca-Cola anda sofrendo com vendas em declínio na América do Norte e até mesmo no globo inteiro. O preço das suas ações foi atingido. Os gostos dos consumidores parecem estar mudando, migrando das bebidas fortemente açucaradas e saturadas de ácido carbônico para a água engarrafada, as bebidas desportivas e os energéticos. No drive thru do fast food da minha localidade, eu percebi que eles estavam promovendo as suas próprias bebidas geladas especiais em detrimento das bebidas gasosas convencionais.
Por que isso importa? Agora, batucando nos meus ouvidos, ecoam os muitos anos de comentários histéricos de intelectuais que criticavam o suposto poder que a Coca-Cola exerce sobre o planeta inteiro. Eles se queixam de que os símbolos da Coca-Cola praticamente adornam o mundo todo; dizem que essa bebida engana as massas faz mais de um século; argumentam que essa bebida é o sinal mais visível da corrupção do capitalismo.
Mas espere! Certamente, as pessoas podem decidir beber ou não beber. Não, não, diz a elite intelectual que constantemente nos avisa do “mito da escolha” no mercado. Nós somos governados por forças estranhas que se encontram fora do nosso controle. Nós temos o receio de que, se não fizermos isso, se não bebermos a coca, não faremos parte da tendência predominante, não nos adequaremos às expectativas impostas corporativamente em relação à maneira como deve ser o nosso comportamento. Em vez disso — em vez de poder escolher —, nós somos os peões de um jogo no qual essa assustadora empresa exerce o supremo papel de rei.
Bem, pense novamente. O que acontece é que o verdadeiro poder está nas mãos dos consumidores. Pare de consumir algo, e essa coisa desaparece. É assim que o mercado funciona. Nem mesmo um legado de 127 anos e uma tradição cultural aparentemente invencível são capazes de obliterar a decisão básica de comprar ou não comprar.
Outro sinal do declínio da Coca-Cola é o fato de que ela recentemente caiu do primeiro para o terceiro lugar no ranking das marcas globais mais respeitadas. O novo número um é a Apple, e o número dois é o Google. Com efeito, dentre as 100 marcas que se encontram no topo, todas aquelas que apresentam movimentos mais rápidos são empresas de tecnologia. Trata-se de uma prova de como a comunicação está mudando o mundo. Mais comunicação significa mais concorrência bem como a derrocada de hábitos arraigados.
Eu posso não morrer de amores pela bebida, mas nunca entendi o ódio que ela causou e continua causando. A Coca-Cola ostenta uma imensa contribuição à história cultural com a sua maravilhosa publicidade que se estende por todo o século XX. Você pode definir as décadas pelo brilhantismo dessa publicidade os desenhos das antigas lojas de bebidas gasosas (soda-jerk); as campanhas de “ensinar o mundo a cantar”; o urso polar; ou as atuais fantásticas homenagens ao comércio além-fronteiras que reforça a paz e combate o desejo pela guerra.
Eu ainda me lembro de, alguns anos atrás, estar sentado na arquibancada em um jogo de baseball e de me maravilhar com a absoluta imensidão do símbolo da Coca-Cola que estava pairando sobre o estádio. Por que essa empresa teve de gastar tanto com publicidade? Com certeza, nenhuma pessoa que estava sentada no estádio desconhecia a coca. Então, qual é o porquê dessa mania de promover a marca?
A publicidade, por si só, demonstra que a Coca-Cola, na verdade, não tem um “poder” sequer semelhante àquele que a polícia possui. Ela não tem a capacidade de obrigar as pessoas a beberem o seu produto. Essa publicidade, efetivamente, não significou desperdício de dinheiro. Ela estava promovendo a marca na esperança de mantê-la constantemente nas nossas mentes, bem como fazendo propaganda do próprio apoio da empresa ao grande esporte que é o baseball. Existem mensagens subliminares em todos os anúncios publicitários? A Coca-Cola, com certeza, espera que sim.
E não há nada de errado nisso. Mas o que acontece quando os gostos mudam radicalmente? Isso é um problema grave. Os especialistas estão dizendo que os consumidores repentinamente passaram a preferir bebidas amargas com menos bolhas efervescentes. A Coca-Cola pode modificar a sua receita ou introduzir, digamos, a bebida Coca-Cola Energy? Bem, ela é uma sobrevivente, então tudo é possível. Basta dar uma olhada em todas as marcas que ela adquiriu recentemente apenas para cobrir as suas apostas.
Você sabe o que é ainda mais espetacular que o declínio da Coca-Cola? Olhe para a água engarrafada que a está substituindo. Agora, se os opositores da economia de mercado desejam criticar alguma coisa, trata-se de um caso perfeito. Muito do material da água engarrafada é mais caro que a gasolina, a qual tem de ser extraída da terra e ser refinada num processo incrivelmente complexo, baseado em intenso uso de bens de capital.
Na maioria das vezes, eu não consigo diferenciar uma garrafa de outra. Por falar nisso, eu nunca realmente entendi o que há de errado com a água da torneira. Mas de gustibus non est disputandum (“gosto não se discute”) e tudo o mais.
Se você fosse um planejador central, com a finalidade de definir preços independentemente da experiência de mercado, você estabeleceria o preço da gasolina ou da água engarrafada em patamares elevados? Trata-se de uma escolha muito óbvia, tendo como base tão-somente considerações tecnológicas. Entretanto, os mercados existentes realmente nos demonstraram um resultado diferente de qualquer ideia que um intelectual de fora poderia alguma vez conceber.
De todas as coisas bonitas da economia de mercado, a sua característica mais admirável é a sua capacidade de confundir os intelectuais com surpresas implacáveis e resultados inesperados. Com a sua pura imprevisibilidade, o mercado funciona no universo como uma força que nos torna humildes e como um lembrete de que, neste mundo, o verdadeiro e principal poder sempre residirá nas forças organizadoras descentralizadas da própria sociedade.
As pessoas poderosas podem retardar o progresso do mundo, mas elas não podem impedi-lo de mudar. Graças ao mercado, nós sempre estaremos redescobrindo a grande verdade de que o curso dos acontecimentos mundiais não é algo que alguém nem mesmo uma empresa gigante como a Coca-Cola possa definitivamente controlar.

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