Tradução: Leandro Augusto Gomes Roque
Revisão: Marcelo Werlang de Assis
Uma das mais difíceis lições
econômicas a ser ensinada aos neófitos dessa área — e, surpreendentemente,
também a vários economistas bastante treinados — é a ideia de que a teoria
econômica não pode dizer nada de definitivo sobre declarações subjetivas. Ela
não pode dizer se algo é ótimo, bom, ruim ou péssimo. Permitam-me alguns
exemplos para esclarecer melhor esse ponto.
O vinho Cabernet Sauvignon é melhor que o vinho Fumé Blanc. A carne de peru é melhor que a carne de porco. Matéria
no estado sólido é melhor do que no estado de plasma. Cada uma dessas
afirmações utiliza as suas próprias premissas como prova das próprias
afirmações, o que nada mais é que um raciocínio circular. Portanto, fica a pergunta:
onde está a prova de cada uma dessas afirmações? Sendo declarações meramente
subjetivas, discordâncias entre os debatedores podem se prolongar ad
infinitum. É tudo simplesmente uma questão de opinião pessoal. A opinião de
uma pessoa sobre o que é melhor ou pior é tão válida quanto a opinião de outra
pessoa.
Agora, compare essas declarações com
estas outras aqui: A água é formada por moléculas compostas por dois átomos de
hidrogênio e um de oxigênio. Cientistas não podem dividir o átomo. A distância
em graus da Linha do Equador ao Polo Norte é de 90. Com afirmações positivas
como essas, se houver qualquer desacordo, existem fatos aos quais o proponente
dessas ideias pode recorrer para resolver a contenda. Por exemplo, se um
indivíduo diz que cientistas podem dividir o átomo, mas outro diz que não, uma
viagem ao acelerador linear de Stanford para observar átomos sendo divididos
resolve a questão. No entanto, se você disser que o vinho Fumé Blanc é melhor que o vinho Cabernet
Sauvignon e se eu disser que o vinho Cabernet
Sauvignon é melhor, a nossa
discordância pode se prolongar eternamente, pois não há fatos ou números
concretos para os quais possamos recorrer.
Uma maneira sempre útil de saber
se uma afirmação é subjetiva é observar o uso de termos e expressões como ‘deveria’,
‘tem de’, ‘melhor’ e ‘pior’. Sempre digo aos meus alunos que, embora seja
importante saber se uma afirmação é subjetiva ou não para raciocinar
corretamente, de modo algum estou sugerindo que eles expurguem do seu
vocabulário afirmações subjetivas. Afirmações subjetivas são muito úteis para
confundir os outros e levá-los a fazer exatamente aquilo que você deseja que façam
para você. No entanto, no processo de enganar os outros, o indivíduo não
precisa enganar a si próprio. Por exemplo, um político diz que cursar
universidade “é um imperativo econômico que deve ser acessível a todas as
famílias da nação”. Não há absolutamente nenhuma evidência que confirme
indiscutivelmente essa afirmação. Com efeito, há vários exemplos de pessoas
inteligentes e extremamente bem-sucedidas que sequer completaram o ensino
médio. Da mesma maneira, há vários exemplos de pessoas com doutorado que não
têm a mínima ideia do que fazem no mundo. Não obstante, tal afirmativa é uma
ótima maneira de coagir os outros a pagarem pela educação de alguém.
E quanto à afirmação de que as
pessoas não deveriam praticar discriminação por raça ou por sexo? Qualquer que
seja a validez emocional de tal afirmação, ela é, acima de tudo, um mero
juízo de valor, sem nenhuma evidência ou nenhum fato que a comprovem. Ademais,
se a interpretarmos literalmente, concluiremos que ela é uma tolice sem
absolutamente nenhum sentido. Pense a respeito. Discriminação nada mais é que
um simples ato de escolha. Sempre que escolhemos algo — ato esse que fazemos
várias vezes ao dia —, estamos discriminando. Quando escolhemos uma pessoa para
ser a nossa parceira para o resto da vida, estamos inevitavelmente
discriminando ou por raça ou por sexo ou por ambos. Você gostaria de viver numa
sociedade em que existissem punições por essa discriminação? Gostaria que o
governo estipulasse com quem você deveria se casar?
Já tive alunos que argumentaram
que a discriminação por raça e por sexo no que diz respeito ao casamento é
trivial e sem grandes consequências; mas que, no que concerne ao mercado de
trabalho, é imperativo haver normas impondo a igualdade de oportunidade. Mas o
que é igualdade de oportunidade? E como você pode afirmar que ela está sendo
aplicada? Sempre pergunto aos alunos que defendem essa ideia se eles, ao se
formarem, darão a cada empregador uma igualdade de oportunidade para
contratá-los; se eles irão se oferecer igualmente para as grandes empresas que
pagam bem e para o administrador do cemitério que precisa de mais coveiros. E
eles sempre me olham com uma expressão atônita e dizem, um tanto constrangidos,
que não. E então eu pergunto: “Se vocês não darão a cada empregador a igualdade
de oportunidade de contratá-los, por que então todos os empregadores deveriam
ser forçados a lhes dar uma igualdade de oportunidade para serem contratados?”.
Sempre que a discussão resvala para
a lei da demanda, o termo “necessidade” sempre surge. Um estudante pode dizer
que um carro, um celular e água corrente são necessidades essenciais. A minha
resposta é que carros, celulares e água corrente não podem ser necessidades
essenciais, pois as pessoas conseguiram viver sem esses itens por muito mais
tempo do que vivem com eles. Não há nada sem o qual as pessoas não possam
viver; apenas as consequências é que podem não ser muito agradáveis.
E você pode dizer: “Williams, mas
este seu pensamento não é nada misericordioso!”. Correto. Creio que ser
misericordioso para com os semelhantes é algo que exija análise isenta e
raciocínio desapaixonado. Em outras palavras, temos de pensar com o nosso
cérebro, não com o nosso coração.
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